sábado, 8 de novembro de 2008

O "Meu" Tempo - Fernando Peixoto

(Tela de José Malhoa).
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O Tempo foi percebendo
que o Tempo também corria
e aos poucos se foi contendo,
menos veloz, cada dia.
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O Tempo ficou mais lento
mais pensativo e contrito...
sentindo, com desalento,
seu carácter de Infinito.
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Ele queria ficar ali
no próprio Tempo parado
para rever o que eu vi
num outro Tempo: o Passado.
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Mas, se o Passado já foi…
E se o Presente aqui mora
a dor de Ontem inda dói
no Tempo de hoje e de agora.
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Levanto ao Tempo a questão:
- se o Tempo não tem idade,
por que corres, tu, então,
se te espera a Eternidade?
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O Tempo parou… no Tempo
sem começo, meio e fim
e criou-me um contra-tempo:
fiquei sem Tempo pra mim!
.
- o Tempo é só dimensão,
Que vem, que vai e não volta…
O Tempo é imensidão…
Não tem freios, anda à solta…
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Retomando o movimento
o Tempo me abandonou
deixando-me o sentimento
da solidão que ficou.
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O Tempo fez-me em pedaços
de amargura... ou de carinho...
de glórias... ou de fracassos...
Fiquei sem Tempo: sozinho!
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Todo o Tempo que me resta
É Tempo incerto e inseguro…
É Tempo que não se empresta
nem se hipoteca ao Futuro.
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2 comentários:

Anônimo disse...

Renata, gostei muito de ler poetas e poetisas que me são desconhecidos.
É um bom serviço que está prestando à poesia (e a ignorantes como eu).
Obrigada e boa semana!

Anônimo disse...

Olá Renata,
A Rô me avisou sobre a postagem de "O "Meu" Tempo" de Fernando Peixoto em seu blog; Apesar de um pouco atrasada, vim deixar um agradecimento pois este poema lhe era muito caro! Sua visita ao ChavedaPoesia será um prazer e lá você encontrará muitos poemas dele!
Um abraço,
Sylvia Cohin