quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Porto Inseguro - Maria Lucia Victor


(Tela de W. Maguetas)
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Do meu caminho entendo eu.
Meu norte traço a bico de pena
e no vôo das águias
que ao pôr-do-sol descambam
nos azuis do mar ao anoitecer.
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Sigo minha estrada de asperezas
tentando afastar as rochas brutas
das incertezas enquanto pântanos
traiçoeiros me acenam seus perigos.
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Só nuvens guiam meu trajeto
e nele me perco de quando em vez,
pois sou humana.
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Aqui e ali faço crescer
tímidas violetas
cor de Sexta-feira Santa,
incertas na beleza,
quase mortas,
ainda assim, flores.
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Às vezes planto rosas,
que em rubro esplendor
explodem quais sóis fugazes
para depois morrerem
mais como pesares
do que como alegrias desabrochadas
em campos de esperança.
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Trago comigo uma bússola
que só eu conheço
e com ela persigo
as veredas do destino,
mas sou traída
pelos sentidos e me afogo
nas areias inclementes do deserto
por onde ando.
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Prossigo de qualquer jeito.
Nas trilhas das crenças indefinidas,
tanto posso dar no mar
quanto nas estrelas,
mas não há faróis nem guias.
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Peço, então, a não sei qual
divindade benfazeja,
mãos postas diante
do fogo sagrado das paixões,
que me faça chegar por fim
a um porto mesmo que inseguro
onde eu possa crer
ainda que sem certeza.
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