sábado, 29 de novembro de 2008

Um Mimo Recebido

(Tela de W. Maguetas)
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Parabéns Renata pelo aniversário do blog! - Geiza Romero
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No mundo de estrelas que brilham
Nasce Renata Essência menina
De olhar forte que sabe o que quer
Poetisa mimosa, e muito carinhosa
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Menina mulher e mãe orgulhosa
Sem pretensão vai caminhando
Fazendo amigos segue firme em uma
caminhada florida com amor e doçura
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Ligada e amorosa defende a natureza
Consciente de um ser social motivada
a defender quem dela precisar com amor
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Um exercito de fãs circulam ao seu redor
Com ar tão romântico faz sua poesias
Com grande maestria só nos da alegria
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Mimo recebido da querida poetisa e amiga Geiza Romero
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Querida Geiza muito obrigada por me presentear com este lindo soneto.
Seu carinho e amizade deixaram-me muito comovida.
Um beijo especial, Renata.
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sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Presente recebido!


Tela de Isabel Guerra
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Essência - Luis Antonio Mezetti Dias
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Renata, que conseguiu
ver claro,ver simples,ver puro
ver o mundo nas suas coisas
ser um olhar com uma alma por traz.
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Disse como sabia
com as mãos de dedos finos, delicados
escrevendo a sensibilidade do coração romântico
a alma inúmera dos outros e sua.
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Amiga tolerante das palavras conscientes
que condena injustamente em boca descuidada
fez da palavra profissão, Doutora ou Poetisa
em ambas conservou a essência da vida.
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Estou certo que simpatizaríamos um com o outro
mas se não nos encontrarmos, guardarei o momento
em que pensei em você, e até escrevi este poema
renataemessencia, amiga que goteja vida.
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Presente recebido do amigo e poeta Luiz Antonio Mezzeti Dias
pelo aniversário de um ano deste blog.
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Obrigada Mezetti por seu carinho e amizade!
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Seus versos sensíveis deixaram-me muito emocionada!
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DATA ESPECIAL: 1 ANO DO BLOG!!!

Tela de Neiva Passuello
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,,,,,Queridos amigos e leitores!
,,,,,Estou muito feliz pois hoje este meu blog está completando um ano de existência.
,,,,,Posso dizer que o apoio, as contribuições, as sugestões e as críticas de cada um de vocês foram fundamentais para o aperfeiçoamento e para a continuidade deste blog. Sem vocês eu não teria conseguido estar aqui comemorando esta data especial.
,,,,,Sei que não tenho conseguido retribuir todas as visitas carinhosas que tenho recebido, mas na medida do possível deixarei minhas palavras em cada um de seus blogs.
,,,,,Muito obrigada a todos!

,,,,,Aproveito esta oportunidade para manifestar minha gratidão à artista plástica Neiva Passuello que getilmente autorizou a divulgação de suas obras na ilustração deste blog.
,,,,,Agradeço, também, minha maninha de coração Leonor Cordeiro pela criação do layout e apoio incondicional.
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,,,,,Beijos primaveris, Renata.
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,,,,,Para comemorar esta data, escolhi o poema Dá-me Tua Mão da Clarice Lispector e a Tela da querida Neiva Passuello. Espero que apreciem.
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Dá-me a Tua Mão - Clarice Lispector
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Dá-me a tua mão:
Vou agora te contar
como entrei no inexpressivo
que sempre foi a minha busca cega e secreta.
De como entrei
naquilo que existe entre o número um e o número dois,
de como vi a linha de mistério e fogo,
e que é linha sub-reptícia.
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Entre duas notas de música existe uma nota,
entre dois fatos existe um fato,
entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam
existe um intervalo de espaço,
existe um sentir que é entre o sentir
- nos interstícios da matéria primordial
está a linha de mistério e fogo
que é a respiração do mundo,
e a respiração contínua do mundo
é aquilo que ouvimos
e chamamos de silêncio.
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quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Poema da Noite - Targélia Barreto de Menezes

Tela de Tarsila do Amaral
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Todas as tardes justamente à hora
Em que o sol desce ao íntimo aposento,
Também sinto descer meu pensamento
Por entre sonhos, aguardando a aurora.
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Alma enlevada, coração atento,
Descubro em tudo vibração sonora,
Pois a vida é o espírito que chora
Em plena terra, em pleno firmamento.
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Ante as sombras no vale e na campina,
Junto à mulher que em extase se inclina
E sempre exulta de emoção ao vê-las,
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Diz o poeta em fantasia imerso,
Que a noite é a alma de luto do universo,
Orvalhada de lágrimas de estrelas.
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quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Mínimo- Soledade Santos



(Tela deNeiva Passuello)
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Saudade da maré-cheia,
dos pequenos barcos tristes
com o exacto
tamanho dos meus anseios
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terça-feira, 25 de novembro de 2008

Cogito - Torquato Neto


(Tela de Portinari)
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eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível
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eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora
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eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim
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eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranquilamente
todas as horas do fim.
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segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Música - Saladino de Brito


Tela de Gustav Klimt
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Na magia dos sons minh'alma se compraz,
ouvindo as melodias de ritmos dolentes,
como a harmonia do caminhar dos crentes,
quando seguiram o Cristo, em seu caminho, atrás ...
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E se tudo turbilhona alucinadamente,
rugindo de cólera, numa expressão voraz;
ao ouvir os puros sons, depressa se desfaz,
a procela que sinto estalar em minha mente.
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A música me estaca o pensamento mau!
Me aponta o amor, me indica a caridade,
dá paz ao meu espírito que vive em pleno caos.
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É a mais bela arte, de tal sublimidade,
é um presente dos céus, do mais supremo grau,
dado por Deus a toda a humanidade!...
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sábado, 22 de novembro de 2008

Protesto Contra A Lentidão das Fontes - Mia Couto

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(Tela de Di Cavalcanti)
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Vazaram-se as luas da savana
ossadas pálidas emigraram
dos corpos para o chão
ajoelharam-se os bois
exaustos de carregarem o sol
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Escureceram as horas
nomeadas pela fome
extinguiu-se o sangue da terra
esvaiu-se o leite
num coágulo de saudade
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Restam troncos
sustentos gemidos
mães oblíquas sonhando migalhas
mendigando crenças
para salvar os filhos já quase terrestres
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Quem protege estes meninos
feitos da chuva que não veio?
Que casa lhes havemos de dar?
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Amanhã
quando se entornarem os cântaros do céu
as aves voltarão a roçar a lua
e as cigarras de novo espalharão o canto
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Mas dos meninos
talhados a golpe de poeira
quantos restarão
para saudar o amanhecer dos frutos?
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quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Cena Familiar - Affonso Romano de Sant'Anna




Tela de Rob Gonsalves
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Densa e doce paz na semiluz da sala.
Na poltrona, enroscada e absorta, uma filha
desenha patos e flores.
Sobre o couro, no chão, a outra viaja silenciosa
nas artimanhas do espião.
Ao pé da lareira a mulher se ilumina numa gravura
flamenga, desenhando, bordando pontos de paz.
Da mesa as contemplo e anoto a felicidade
que transborda da moldura do poema.
A sopa fumegante sobre a mesa, vinhos e queijos,
relembranças de viagens e a lareira acesa.
Esta casa na neblina, ancorada entre pinheiros,
é uma nave iluminada.
Um oboé de Mozart torna densa a eternidade.
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sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Reflexão intimista: Meu eu, minha vida - Marilda Diorio


(Tela de W. Maguetas)
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Estanque com a vida,
com o tempo, tentei olhar para trás,
procurei pelos sonhos em buscas vãs.
Momento íntimo de quem perdeu as cores vibrantes
por imposição da vida, pela solidariedade
sem reclames, em doação plena.
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Por um longo tempo, assim desenhei meus dias.
Porém, um vazio havia...
Tentando recuperar o que sempre vivi,
percebi que havia congelado meus sonhos,
que descuidei do meu amor,
que embalsamei os amigos
eternizados em meu coração,
que a vida ficou sem melodia,
sem Staccato, sem Adágio e
sem Pianinho.
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Apenas o ritmo ensurdecedor
da batalha do tempo sobressaía,
misturando-se com o pulsar acelerado do coração.
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Algo errado havia...
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Meu sorriso ficou desbotado,
a esperança adormecida,
e o cansaço vencendo a alegria de viver.
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Algo errado havia...
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Não me reconhecia diante do espelho da alma.
Notei que aqueles não eram meus olhos brilhantes!
Recusei a aceitar aquela boca sem viço,
sem a falta de minha expressão vivaz,
tão presente em mim.
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Algo errado havia...
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Vasculhei cantinho por cantinho do meu ser...
As interrogações surgiram:
Por onde ancoraram meus sonhos?
Por que o tempo me engoliu?
Por que meus versos adormeceram?
Por que abdiquei totalmente de meu jeito de ser?
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Encontrei uma única resposta
para tantas perdas momentâneas:
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A Solidariedade direta da alma e do coração
consumiram meu tempo e a minha vida.
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No momento que senti o vazio,
entendi que a vida estava me ensinando,
a ser solidária sem precisar me anular.
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Por fim... Sorri!
Reencontrei o meu eu e retornei a minha vida!
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terça-feira, 11 de novembro de 2008

Auto-Retrato - Mário Quintana


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No retrato que me faço
- traço a traço -
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore...
às vezes me pinto coisas
de que nem há mais lembrança...
ou coisas que não existem
mas que um dia existirão...
e, desta lida, em que busco
- pouco a pouco -
minha eterna semelhança,
no final, que restará?
Um desenho de criança...
Corrigido por um louco!
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segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Sem Enfeite Nenhum - Adélia Prado

(Obra de Guido Viaro)
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A mãe era desse jeito: só ia em missa das cinco, por causa de os gatos no escuro serem pardos. Cinema, só uma vez, quando passou os Milagres do padre Antônio em Urucânia. Desde aí, falava sempre, excitada nos olhos, apressada no cacoete dela de enrolar um cacho de cabelo: se eu fosse lá, quem sabe?
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Sofria palpitação e tonteira, lembro dela caindo na beira do tanque, o vulto dobrado em arco, gente afobada em volta, cheiro de alcanfor.
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Quando comecei a empinar as blusas com o estufadinho dos peitos, o pai chegou pra almoçar, estudando terreno, e anunciou com a voz que fazia nessas ocasiões, meio saliente: companheiro meu tá vendendo um relogim que é uma gracinha, pulseirinha de crom', danado de bom pra do Carmo. Ela foi logo emendando: tristeza, relógio de pulso e vestido de bolér. Nem bolero ela falou direito de tanta antipatia. Foi água na fervura minha e do pai.
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Vivia repetindo que era graça de Deus se a gente fosse tudo pra um convento e várias vezes por dia era isto: meu Jesus, misericórdia... A senhora tá triste, mãe? eu falava. Não, tou só pedindo a Deus pra ter dó de nós.
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Tinha muito medo da morte repentina e pra se livrar dela, fazia as nove primeiras sextas-feiras, emendadas. De defunto não tinha medo, só de gente viva, conforme dizia. Agora, da perdição eterna, tinha horror, pra ela e pros outros.
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Quando a Ricardina começou a morrer, no Beco atrás da nossa casa, ela me chamou com a voz alterada: vai lá, a Ricardina tá morrendo, coitada, que Deus perdoe ela, corre lá, quem sabe ainda dá tempo de chamar o padre, falava de arranco, querendo chorar, apavorada: que Deus perdoe ela, ficou falando sem coragem de aluir do lugar.
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Mas a Ricardina era de impressionar mesmo, imagina que falou pra mãe, uma vez, que não podia ver nem cueca de homem que ela ficava doida. Foi mais por isso que ela ficou daquele jeito, rezando pra salvação da alma da Ricardina.
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Era a mulher mais difícil a mãe. Difícil, assim, de ser agradada. Gostava que eu tirasse só dez e primeiro lugar. Pra essas coisas não poupava, era pasta de primeira, caixa com doze lápis e uniforme mandado plissar. Acho mesmo que meia razão ela teve no caso do relógio, luxo bobo, pra quem só tinha um vestido de sair.
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Rodeava a gente estudar e um dia falou abrupto, por causa do esforço de vencer a vergonha: me dá seus lápis de cor. Foi falando e colorindo laranjado, uma rosa geométrica: cê põe muita força no lápis, se eu tivesse seu tempo, ninguém na escola me passava, inteligência não é estudar, por exemplo falar você em vez de cê, é tão mais bonito, é só acostumar. Quando o coração da gente dispara e a gente fala cortado, era desse jeito que tava a voz da mãe.
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Achava estudo a coisa mais fina e inteligente era mesmo, demais até, pensava com a maior rapidez. Gostava de ler de noite, em voz alta, com tia Santa, os livros da Pia Biblioteca, e de um não esqueci, pois ela insistia com gosto no titulo dele, em latim: Máguina pecatrís. Falava era antusiasmo e nunca tive coragem de corrigir, porque toda vez que tava muito alegre, feito naquela hora, desenhando, feito no dia de noite, o pai fazendo serão, ela falou: coitado, até essa hora no serviço pesado.
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Não estava gostando nem um pouquinho do desenho, mas nem que eu falava. Com tanta satisfação ela passava o lápis, que eu fiquei foi aflita, como sempre que uma coisa boa acontecia.
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Bom também era ver ela passando creme Marsílea no rosto e Antissardina n° 3, se sacudindo de rir depois, com a cara toda empolada. Sua mãe é bonita, me falaram na escola. E era mesmo, o olho meio verde.
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Tinha um vestido de seda branco e preto e um mantô cinzentado que ela gostava demais.
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Dia ruim foi quando o pai entestou de dar um par de sapato pra ela. Foi três vezes na loja e ela botando defeito, achando o modelo jeca, a cor regalada, achando aquilo uma desgraça e que o pai tinha era umas bobagens. Foi até ele enfezar e arrebentar com o trem, de tanta raiva e mágoa.
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Mas sapato é sapato, pior foi com o crucifixo. O pai, voltando de cumprir promessa em Congonhas do Campo, trouxe de presente pra ela um crucifixo torneadinho, o cordão de pendurar, com bambolim nas pontas, a maior gracinha. Ela desembrulhou e falou assim: bonito, mas eu preferia mais se fosse uma cruz simples, sem enfeite nenhum.
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Morreu sem fazer trinta e cinco anos, da morte mais agoniada, encomendando com a maior coragem: a oração dos agonizantes, reza aí pra mim, gente.Fiquei hipnotizada, olhando a mãe. Já no caixão, tinha a cara severa de quem sente dor forte, igualzinho no dia que o João Antônio nasceu. Entrei no quarto querendo festejar e falei sem graça: a cara da senhora, parece que tá com raiva, mãe.
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..........O Senhor te abençoe e te guarde,
..........Volva a ti o Seu Rosto e se compadeça de ti,
..........O Senhor te dê a Paz.
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Esta é a bênção de São Francisco, que foi abrandando o rosto dela, descansando, descansando, até como ficou, quase entusiasmado.
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Era raiva não. Era marca de dor.
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sábado, 8 de novembro de 2008

O "Meu" Tempo - Fernando Peixoto

(Tela de José Malhoa).
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O Tempo foi percebendo
que o Tempo também corria
e aos poucos se foi contendo,
menos veloz, cada dia.
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O Tempo ficou mais lento
mais pensativo e contrito...
sentindo, com desalento,
seu carácter de Infinito.
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Ele queria ficar ali
no próprio Tempo parado
para rever o que eu vi
num outro Tempo: o Passado.
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Mas, se o Passado já foi…
E se o Presente aqui mora
a dor de Ontem inda dói
no Tempo de hoje e de agora.
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Levanto ao Tempo a questão:
- se o Tempo não tem idade,
por que corres, tu, então,
se te espera a Eternidade?
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O Tempo parou… no Tempo
sem começo, meio e fim
e criou-me um contra-tempo:
fiquei sem Tempo pra mim!
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- o Tempo é só dimensão,
Que vem, que vai e não volta…
O Tempo é imensidão…
Não tem freios, anda à solta…
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Retomando o movimento
o Tempo me abandonou
deixando-me o sentimento
da solidão que ficou.
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O Tempo fez-me em pedaços
de amargura... ou de carinho...
de glórias... ou de fracassos...
Fiquei sem Tempo: sozinho!
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Todo o Tempo que me resta
É Tempo incerto e inseguro…
É Tempo que não se empresta
nem se hipoteca ao Futuro.
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sexta-feira, 7 de novembro de 2008

HOJE É DIA DE CECÍLIA! BLOGAGEM COLETIVA


(Tela de Diane Ethier)
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Vimos a Lua - Cecília Meireles
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Vimos a lua nascer, na tarde clara.
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Orvalhavam diamantes, as tranças aéreas das ondas
e as janelas abriam-se para florestas cheias de cigarras.
Vimos também a nuvem nascer no fim do oeste.
Ninguém lhe dava importância.
Parece uma pena solta - diziam.
Uma flor desfolhada.
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Vimos a lua nascer, na tarde clara.
Subia com o seu diadema transparente,
vagarosa, suportando tanta glória.
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.Mas a nuvem pequena corria veloz pelo céu.
Reuniu exércitos de lã parda,
levantou por todos os lados o alvoroto da sombra.
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Quando quisemos outra vez lua,
ouvimos a chuva precipitar-se nas vidraças,
e a floresta debater-se com o vento.
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Por detrás das nuvens, porém,
sabíamos que durava, gloriosa e intacta, a lua.
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(in Flor de Poemas).
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***** Blogagem coletiva sugerida pela querida amiga Leonor Cordeiro, (http://leonorcordeiro.blogspot.com/) para homenagear mais um ano de nascimento de Cecília Meireles.
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quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Porto Inseguro - Maria Lucia Victor


(Tela de W. Maguetas)
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Do meu caminho entendo eu.
Meu norte traço a bico de pena
e no vôo das águias
que ao pôr-do-sol descambam
nos azuis do mar ao anoitecer.
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Sigo minha estrada de asperezas
tentando afastar as rochas brutas
das incertezas enquanto pântanos
traiçoeiros me acenam seus perigos.
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Só nuvens guiam meu trajeto
e nele me perco de quando em vez,
pois sou humana.
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Aqui e ali faço crescer
tímidas violetas
cor de Sexta-feira Santa,
incertas na beleza,
quase mortas,
ainda assim, flores.
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Às vezes planto rosas,
que em rubro esplendor
explodem quais sóis fugazes
para depois morrerem
mais como pesares
do que como alegrias desabrochadas
em campos de esperança.
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Trago comigo uma bússola
que só eu conheço
e com ela persigo
as veredas do destino,
mas sou traída
pelos sentidos e me afogo
nas areias inclementes do deserto
por onde ando.
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Prossigo de qualquer jeito.
Nas trilhas das crenças indefinidas,
tanto posso dar no mar
quanto nas estrelas,
mas não há faróis nem guias.
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Peço, então, a não sei qual
divindade benfazeja,
mãos postas diante
do fogo sagrado das paixões,
que me faça chegar por fim
a um porto mesmo que inseguro
onde eu possa crer
ainda que sem certeza.
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quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Eu Comigo - Helena Kolody


(Tela de Frida Kahlo)
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Muito briguei eu comigo,
tive raiva,
me insultei.
E, de incontido desgosto,
em meu próprio ombro chorei.
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segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Hoje é Vida - Rosângela do Valle Dias

(Tela de Neiva Passuello)
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O passado chegou de mansinho
e tentou aprisionar-me.
Dei-lhe uma rasteira de presente,
convoquei o coração ao futuro e
decidi :
ontem, lanterna apagada;
hoje, vida escancarada;
amanhã, se eu acordar...
Ó luz!
É hoje, é vida...
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sábado, 1 de novembro de 2008

O Rio - Vinícius de Moraes


(Tela de C. Portinari)
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Uma gota de chuva
A mais, e o vento grávido
Estremeceu da terra.
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Através de antigos
Sedimentos, rochas
Ignoradas, ouro
Carvão, ferro e mármore
um fio cristalino
Distante milênios
Partiu fragilmente
Sequioso de espaço
Em busca de luz.
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Um rio nasceu.
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