quarta-feira, 30 de abril de 2008

Saudades - Pablo Neruda


(Tela de Van Gogh - Noite)
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Saudade é solidão acompanhada,
É quando o amor ainda não foi embora,
Mas o amado já...
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Saudade é amar um passado
Que ainda não passou,
É recusar um presente que nos machuca,
É não ver o futuro que nos convida...
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Saudade é sentir que existe
O que não existe mais...
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Saudade é o inferno dos que perderam,
É a dor dos que ficaram para trás,
É o gosto de morte na boca dos que continuam...
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Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
Aquela que nunca amou.
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E esse é o maior dos sofrimentos:
Não ter por quem sentir saudades,
Passar pela vida e não viver.
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O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.
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terça-feira, 29 de abril de 2008

A Transfiguração pela Poesia - Vinícius de Moraes


(Tela de Neiva Passuello - Vaso com Flores)
www.neiva.passuello.com.br
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Creio firmemente que o confinamento em si mesmo, imposto a toda uma legião de criaturas pela guerra, é dinamite se acumulando no subsolo das almas para as explosões da paz. No seio mesmo da tragédia sinto o fermento da meditação crescer. Não tenho dúvida de que poderosos artistas surgirão das ruínas ainda não reconstruídas do mundo para cantar e contar a beleza e reconstruí-lo livre. Pois na luta onde todos foram soldados - a minoria nos campos de batalha, a maioria nas solidões do próprio eu, lutando a favor da liberdade e contra ela, a favor da vida e contra ela - os sobreviventes, de corpo e espírito, e os que aguardaram em lágrimas a sua chegada imprevisível, hão de se estreitar num abraço tão apertado que nem a morte os poderá separar. E o pranto que chorarem juntos há de ser água para lavar dos corações o ódio e das inteligências o mal-entendido.
Porque haverá nos olhos, na boca, nas mãos, nos pés de todos uma ânsia tão intensa de repouso e de poesia, que a paixão os conduzirá para os mesmos caminhos, os únicos que fazem a vida digna: os da ternura e do despojamento. Tenho que só a poesia poderá salvar o mundo da paz política que se anuncia - a poesia que é carne, a carne dos pobres humilhados, das mulheres que sofrem, das crianças com frio, a carne das auroras e dos poentes sobre o chão ainda aberto em crateras.
Só a poesia pode salvar o mundo de amanhã. E como que é possível senti-la fervilhando em larvas numa terra prenhe de cadáveres. Em quantos jovens corações, neste momento mesmo, já não terá vibrado o pasmo da sua obscura presença? Em quantos rostos não se terá ela plantado, amarga, incerta esperança de sobrevivência? Em quantas duras almas já não terá filtrado a sua claridade indecisa? Que langor, que anseio de voltar, que desejo de fruir, de fecundar, de pertencer, já não terá ela arrancado de tantos corpos parados no antemomento do ataque, na hora da derrota, no instante preciso da morte? E a quantos seres martirizados de espera, de resignação, de revolta já não terão chegado as ondas do seu misterioso apelo?
Sofre ainda o mundo de tirania e de opressão, da riqueza de alguns para a miséria de muitos, da arrogância de certos para a humilhação de quase todos. Sofre o mundo da transformação dos pés em borracha, das pernas em couro, do corpo em pano e da cabeça em aço. Sofre o mundo da transformação das mãos em instrumentos de castigo e em símbolosDe força. Sofre o mundo da transformação da pá em fuzil, do arado em tanque de guerra, da imagem do semeador que semeia na do autômato com seu lança-chamas, de cuja sementeira brotam solidões.
A esse mundo, só a poesia poderá salvar, e a humildade diante da sua voz. Parece tão vago, tão gratuito, e no entanto eu o sinto de maneira tão fatal! Não se trata de desencantá-la, porque creio na sua aparição espontânea, inevitável. Surgirá de vozes jovens fazendo ciranda em torno de um mundo caduco; de vozes de homens simples, operários, artistas, lavradores, marítimos, brancos e negros, cantando o seu labor de edificar, criar, plantar, navegar um novo mundo; de vozes de mães, esposas, amantes e filhas, procriando, lidando, fazendo amor, drama, perdão. E contra essas vozes não prevalecerão as vozes ásperas de mando dos senhores nem as vozes soberbas das elites. Porque a poesia ácida lhes terá corroído as roupas. E o povo então poderá cantar seus próprios cantos, porque os poetas serão em maior número e a poesia há de velar.
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* Primeira crônica do A., publicada em A Manhã, 1946.
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segunda-feira, 28 de abril de 2008

Irene no Céu - Manuel Bandeira


(Tela de Neiva Passuello - Cores e Luzes de Outono)


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Irene no céu
Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor.
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Imagino Irene entrando no céu:
— Licença, meu branco!
E São Pedro bonachão:
— Entra, Irene.
Você não precisa pedir licença.
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domingo, 27 de abril de 2008

Ao Espelho - Rubem Braga

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Tu, que não foste belo nem perfeito,
Ora te vejo (e tu me vês) com tédio
E vã melancolia, contrafeito,
Como a um condenado sem remédio.
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Evitas meu olhar inquiridor
Fugindo, aos meus dois olhos vermelhos,
Porque já te falece algum valor
Para enfrentar o tédio dos espelhos.
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Ontem bebeste em demasia, certo,
Mas não foi, convenhamos, a primeira
Nem a milésima vez que hás bebido.
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Volta portanto a cara, vê de perto
A cara, tua cara verdadeira,
Oh Braga envelhecido, envilecido.
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sábado, 26 de abril de 2008

Meus Rabiscos ...


(Tela de Pablo Picasso - -Les Amoureux)
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Sobre a Busca - Renata Christina
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A incessante busca por respostas e explicações, aflige o coração e tumultua as idéias. Nada como a real paz de espírito.

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sexta-feira, 25 de abril de 2008

Oferenda - Carmen de Melo


(Tela de Monet - Madame Monet and Child)
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Eu te ofereço a minha afinidade
Com teu modo de ser, pensar e agir.
Que eu possa continuar tua bondade,
Por meu olhar, meu gesto e meu sorrir.
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Minha palavra, como a tua, agrade,
Para todos gostarem de me ouvir.
Que eu tenha sempre esta felicidade:
Que eu saiba dar, para saber pedir.
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A mão que escreve, como a tua, seja,
Para que todo coração me veja,
Pura, sincera, corajosa e boa.
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Que tenha honestidade no louvor
E que saiba traçar, com muito amor,
A divina palavra que perdoa.
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quarta-feira, 23 de abril de 2008

Música - Ricarda Huch


(Tela de Henri Matisse - Open Window)
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Melodias curam a aflição,

e o prazer
perdido elas tornam a trazer
- bálsamos do enfermo coração.
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Da terra, onde somos ocupados
feito escravos,
levam-nos a um reino deslumbrante
- como em asas de gênios sagrados.
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Vibrai, vibrai mais, canto e encanto!

Longe assim
fica a Terra, nossa estrela ruim;
perto fulge o Amor, entretanto.

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Trad. Geir Campos
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terça-feira, 22 de abril de 2008

Neurolingüistíca - Adélia Prado



Quando ele me disse

ô linda, pareces uma rainha,

fui ao cúmice do ápice

mas segurei meu desmaio.

Aos sessenta anos de idade,

vinte de casta viuvez,

quero estar bem acordada,

caso ele fale outra vez.

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segunda-feira, 21 de abril de 2008

A Estrela da Tarde - Orides Fontela



(Tela de Paul Klee - The Rose Garden)


A estrela da tarde

está madura

e sem nenhum perfume

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A estrela da tarde é

infecunda

e altíssima

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Depois da estrela da tarde

so há:

o silêncio.

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domingo, 20 de abril de 2008

Canção dos Elfos - Goethe

(Tela de Rembrandt - Auto Retrato com sua Esposa)


À meia-noite, quando os homens enfim dormem,

Então nos fulge a lua,

Então nos luz a estrela;

Vagamos, enfim, cantamos,

Jubilosos dançamos.

à meia-noite, quando os homens enfim dormem,

Pelas planícies, entre os salgueiros,

Nosso espaço buscamos,

Vagamos e cantamos

E dançamos um sonho.

(Trad. Mário Faustino)
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sábado, 19 de abril de 2008

Vincent (Van Gogh) - Henriqueta Lisboa



(Tela de Van Gogh - Giardino Fiorito)


Então, Vincent imaginou

um jardim de outra espécie.

Era o arrebol e eram flores,

urzes, flâmulas, auréolas.

Eram touças e mais touças

com bruscos favos de mel.

E eis o sol girando aceso

para ver por sua vez

a própria luz que se entorna

de dentro dos girassóis.

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Seria o ferrete, acaso,

(por veredas, por atalhos)

das lavras onde a miséria

chagas de fogo lavrara.

Seria a chama da vela

crestando os puros melindres

da palma da mão. Seria

o mesmo fluido das veias

em arremessos de febre

do coração para o linho.

Seria o rubor da face

rebentando pelos poros

à bofetada da vida.

Desespero de retorno

de orelha que se mutila

por ter ouvido palavra

de frio metal corrupto.

Nunca tal palavra, nunca,

de escórias adubo fértil,

exalação de paludes

a amargar uma existência

desde as raízes veladas.

Por que essa alma, à primavera,

de trêmulos punhos verdes

acima do solo em faustos

e taças de âmbar, em brindes

(sol, girassol, sangue, suor)

com flor de espumas erguesse

o vinho recuperador.

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sexta-feira, 18 de abril de 2008

Montanhas de Ouro Preto - Murilo Mendes

(Tela de Sylvio Pinto - Ouro Preto)


Desdobram-se as montanhas de Ouro Preto
Na perfurada luz, em plano austero.
Montes contempladores, circunscritos
Entre cinza e castanho, o olhar domado
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Recolhe vosso espectro permanente.
Por igual pascentais a luz difusa
Que se reajusta ao corpo das igrejas,
E volve o pensamento à descoberta
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De uma luta antiqüíssima com o caos,
De uma reinvenção dos elementos
Pela força de um culto ora perdido,
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Relíquias de dureza e de doutrina,
Rude apetite dessa cousa eterna
Retida na estrutura de Ouro Preto.
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Imagem retirada do site http://www.decorecomarte.com.br
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quinta-feira, 17 de abril de 2008

O Retrato Fiel - Gilka Machado

(Tela de Cézanne)
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Não creias nos meus retratos,



nenhum deles me revela,



ai, não me julgues assim!



Minha cara verdadeira



fugiu às penas do corpo,



ficou isenta da vida.



Toda minha faceirice



e minha vaidade toda



estão na sonora face;



naquela que não foi vista



e que paira, levitando,



em meio a um mundo de cegos.



Os meus retratos são vários



e neles não terás nunca



o meu rosto de poesia.



Não olhes os meus retratos,



nem me suponhas em mim.



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quarta-feira, 16 de abril de 2008

Reflexivo - Affonso Romano de Sant' Anna



(Tela de Di Cavalcanti - Paquetá)


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O que não escrevi, calou-me.


O que não fiz, partiu-me.


O que não senti, doeu-se.


O que não vivi, morreu-se.


O que adiei, adeus-se.


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Affonso Romano de Sant'Anna

terça-feira, 15 de abril de 2008

Impressionista - Adélia Prado


(Tela de Paul-Klee-Cityscape with Yellow Windows)
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Uma ocasião,


meu pai pintou a casa toda


de alaranjado brilhante.


Por muito tempo moramos numa casa,


como ele mesmo dizia,


constantemente amanhecendo.


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segunda-feira, 14 de abril de 2008

Anoitecer na Praia - Hermes Fontes

(Tela de Di Cavalcanti - Casario e Barcos)
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Junto ao mar, as crianças

são mais alegres; as mulheres são

mais harmoniosas,

mais naturais.

E, enquanto a ondulação

das águas marulhosas

arma, em seu ritmo, imprevistas danças

isócronas, mas sempre desiguais;

e a escumilha na praia arma frouxéis de rosas,

efêmeros, sutis, quase irreais;

e as crianças, à beira da água, armam castelos

na úmida areia,

sob os olhos da miss, ou da ama que as ladeia,

e o distraído encanto dos papais;

e os velhos, em seus trajos mais singelos,

sob os toldos velados,

repousados,

sorriem cachimbando,

recordando

coisas imemoriais, —

cada mulher que passa é atávica sereia;

é atávico tritão

cada atleta que emerge à ondulação

da correnteza rejuvenescente;

é atávico tritão

aquele nadador adolescente

ora a subordinar o mar fremente

que resfolega e ondeia,

ao ritmo do seu próprio coração...

(...)

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domingo, 13 de abril de 2008

Meus Rabiscos ...


Quanto ao Tempo - Renata Christina


Não há tempo a perder quando se é dono do instante.


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sexta-feira, 11 de abril de 2008

Auto-Retrato - Manuel Bandeira


( De Portinari)
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Provinciano que nunca soube


Escolher bem uma gravata;


Pernambucano a quem repugna


A faca do pernambucano;


Poeta ruim que na arte da prosa


Envelheceu na infância da arte,


E até mesmo escrevendo crônicas


Ficou cronista de província;


Arquiteto falhado, músico


Falhado (engoliu um dia
Um piano, mas o teclado


Ficou de fora); sem família,


Religião ou filosofia;


Mal tendo a inquietação de espírito


Que vem do sobrenatural,


E em matéria de profissão


Um tísico profissional.


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quinta-feira, 10 de abril de 2008

Cântico Negro - José Régio

(Tela de Monet)




‘Vem por aqui» — dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: «vem por aqui»!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.

Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha Mãe.

Não, não vou por ai! Só vou por onde Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Por que me repetis: «vem por aqui»?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada! O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: <(vem por aqui»! A minha vida é um vendaval que se soltou. É uma onda que se alevantou. É um átomo a mais que se animou... Não sei por onde vou, Não sei para onde vou, - Sei que não vou por aí!


ANTOLOGIA POÉTICA
José Régio – Edições Quasi - Lisboa – Portugal - 2001

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Meus Rabiscos ...


(Picasso - O Sonho)

Palavras - Renata Christina

Palavras ditas ou desditas?

Devaneios, realidade ou ilusão?

Não há emendas nem retalhos

Apenas uma lacuna por

Palavras não ditas
Que corroem a alma

E pungem o coração.


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terça-feira, 8 de abril de 2008

Meus Rabiscos ...


(Tela de Paul Klee)


,Florada - Renata Christina


Rosas enfeitando o caminho

Jasmins esbanjando sua fragrância

Hortências impondo sua presença.

Esse florido caminho leva-me

Ao jardim adormecido de recordações

de minha saudosa infância.


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segunda-feira, 7 de abril de 2008

Aninha e suas Pedras - Cora Coralina

(Tela de Monet)..

Não te deixes destruir...

Ajuntando novas pedras

e construindo novos poemas.

Recria tua vida, sempre, sempre.

Remove pedras e planta roseiras e faz doces.

Recomeça.

Faz de tua vida mesquinha

um poema.
E viverás no coração dos jovens

e na memória das gerações que hão de vir.

Esta fonte é para uso de todos os sedentos.

Toma a tua parte.

Vem a estas páginas

e não entraves seu uso

aos que têm sede.
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Imagem retirada do site:
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domingo, 6 de abril de 2008

Por Alberto Caeiro


Saúdo todos que me lerem,
Tirando-lhes o chapéu largo
Quando me vêem à minha porta
Mal a diligência levanta no cimo do outeiro.
Saúdo-os e desejo-lhes sol,
E chuva, quando a chuva é precisa,
E que as suas casas tenham
Ao pé duma janela aberta
Uma cadeira predileta
Onde se sentem, lendo os meus versos..

De o Guardador de Rebanhos - Alberto Caeiro

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sábado, 5 de abril de 2008

Outono - Teruko Oda


(Tela de Cézanne - Sainte Victoire Montagne)
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Volto a ser criança
Em cada trouxinha de palha
Que esconde a pamonha!
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No céu cristalino
A lua cheia de outono
parece sorrir.

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sexta-feira, 4 de abril de 2008

Iniciação - Orides Fontela



(Tela de Tarsila do Amaral - Paisagem com Touro)
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Se vens a uma terra estranha
curva-te
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se este lugar é esquisito
curva-te

se o dia é todo estranheza
submete-te
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— és infinitamente mais estranho
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quinta-feira, 3 de abril de 2008

Ser Poeta - Florbela Espanca


(Tela de Neiva Passuello - Recanto Litorâneo)
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Ser poeta é ser mais alto, é ser maior

Do que os homens! Morder como quem beija!

É ser mendigo e dar como quem seja

Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

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É ter de mil desejos o esplendor

E não saber sequer que se deseja!

É ter cá dentro um astro que flameja,

É ter garras e asas de condor!

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É ter fome, é ter sede de Infinito!

Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...

é condensar o mundo num só grito!

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E é amar-te, assim, perdidamente...

É seres alma, e sangue, e vida em mim

E dizê-lo cantando a toda a gente!

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terça-feira, 1 de abril de 2008

Desencontrários - Paulo Leminski


Mandei a palavra rimar,
ela não me obedeceu.
Falou em mar, em céu, em rosa,
em grego, em silêncio, em prosa.
Parecia fora de si,
sílaba silenciosa.
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Mandei a frase sonhar,
e ela se foi num labirinto.
Fazer poesia, eu sinto, apenas isso.
Dar ordens a um exército,
para conquistar um império extinto.

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(Imagem retirada do site : www.aldinaduarte.com/blog/?m=200701)