quarta-feira, 18 de junho de 2008

Hora - Sophia de Mello Breyber Andresen


(Tela de W. Maguetas)
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Sinto que hoje novamente embarco
Para as grandes aventuras,
Passam no ar palavras obscuras
E o meu desejo canta --- por isso marco
Nos meus sentidos a imagem desta hora.
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Sonoro e profundo
Aquele mundo
Que eu sonhara e perdera
Espera
O peso dos meus gestos.
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E dormem mil gestos nos meus dedos.
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Desligadas dos círculos funestos
Das mentiras alheias,
Finalmente solitárias,
As minhas mãos estão cheias
De expectativa e de segredos
Como os negros arvoredos
Que baloiçam na noite murmurando.
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Ao longe por mim oiço chamando
A voz das coisas que eu sei amar.
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E de novo caminho para o mar.
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Um comentário:

Dois Rios disse...

"Ao longe por mim oiço chamando
A voz das coisas que eu sei amar."

Os versos de Sophia de Mello Breyner Andresen tem o dom de vasculhar o mais oculto dos sentidos. As palavras dela sempre tocam fundo.

Belíssima escolha!

Bjs,