quinta-feira, 26 de junho de 2008

Discurso - Cecília Meireles


(Tela de Van Gogh)
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E aqui estou, cantando.
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Um poeta é sempre irmão do vento e da água:
deixa seu ritmo por onde passa.
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Venho de longe e vou para longe:
mas procurei pelo chão os sinais do meu caminho
e não vi nada, porque as ervas cresceram e as serpentes
andaram.
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Também procurei no céu a indicação de uma trajetória,
mas houve sempre muitas nuvens.
E suicidaram-se os operários de Babel.
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Pois aqui estou, cantando.
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Se eu nem sei onde estou,
como posso esperar que algum ouvido me escute?
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Ah! Se eu nem sei quem sou,
como posso esperar que venha alguém gostar de mim?
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Um comentário:

Anônimo disse...

Um poema muito bonito! Você possui um bom gosto enorme e muita sensibilidade para aliar os poemas às imagens. Admiro muito você. Beijos moça bonita.