sábado, 19 de abril de 2008

Vincent (Van Gogh) - Henriqueta Lisboa



(Tela de Van Gogh - Giardino Fiorito)


Então, Vincent imaginou

um jardim de outra espécie.

Era o arrebol e eram flores,

urzes, flâmulas, auréolas.

Eram touças e mais touças

com bruscos favos de mel.

E eis o sol girando aceso

para ver por sua vez

a própria luz que se entorna

de dentro dos girassóis.

.

Seria o ferrete, acaso,

(por veredas, por atalhos)

das lavras onde a miséria

chagas de fogo lavrara.

Seria a chama da vela

crestando os puros melindres

da palma da mão. Seria

o mesmo fluido das veias

em arremessos de febre

do coração para o linho.

Seria o rubor da face

rebentando pelos poros

à bofetada da vida.

Desespero de retorno

de orelha que se mutila

por ter ouvido palavra

de frio metal corrupto.

Nunca tal palavra, nunca,

de escórias adubo fértil,

exalação de paludes

a amargar uma existência

desde as raízes veladas.

Por que essa alma, à primavera,

de trêmulos punhos verdes

acima do solo em faustos

e taças de âmbar, em brindes

(sol, girassol, sangue, suor)

com flor de espumas erguesse

o vinho recuperador.

.

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns pelo post! Moça bonita beijo para vc!