(Tela de Van Gogh - Giardino Fiorito)
Então, Vincent imaginou
um jardim de outra espécie.
Era o arrebol e eram flores,
urzes, flâmulas, auréolas.
Eram touças e mais touças
com bruscos favos de mel.
E eis o sol girando aceso
para ver por sua vez
a própria luz que se entorna
de dentro dos girassóis.
.
Seria o ferrete, acaso,
(por veredas, por atalhos)
das lavras onde a miséria
chagas de fogo lavrara.
Seria a chama da vela
crestando os puros melindres
da palma da mão. Seria
o mesmo fluido das veias
em arremessos de febre
do coração para o linho.
Seria o rubor da face
rebentando pelos poros
à bofetada da vida.
Desespero de retorno
de orelha que se mutila
por ter ouvido palavra
de frio metal corrupto.
Nunca tal palavra, nunca,
de escórias adubo fértil,
exalação de paludes
a amargar uma existência
desde as raízes veladas.
Por que essa alma, à primavera,
de trêmulos punhos verdes
acima do solo em faustos
e taças de âmbar, em brindes
(sol, girassol, sangue, suor)
com flor de espumas erguesse
o vinho recuperador.
.
Um comentário:
Parabéns pelo post! Moça bonita beijo para vc!
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