sábado, 12 de janeiro de 2008

Ah, que você escape - José Lezama Lima


Ah, que você escape no instante
em que tenha alcançado sua melhor definição.
Ah, minha amiga, não queira acreditar
nas perguntas dessa estrela recém-cortada,
que vai molhando suas pontas em outra estrela inimiga.
Ah, se fosse certo que, à hora do banho,
quando, em uma mesma água discursiva,

se banham a imóvel paisagem e os animais mais finos:
antílopes, serpentes de passos breves, de passos evaporados,
parecem entre sonhos, sem ânsias levantar
os mais extensos cabelos e a água mais recordada.
Ah, minha amiga, se no puro mármore das despedidas
tivesses deixado a estátua que poderia nos acompanhar,
pois o vento, o vento gracioso,
se extende como um gato para deixar-se definir.

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(Tela de Neiva Passuello - Reflexos Prateados no Lago)

http://neiva.passuello.com.br/


Um comentário:

Anônimo disse...

Foim grata e linda surpresasaber de Lezama aquí. Não tem esta poesia a escrita gongorina do Gordo e isso faz dos versos lírios; não cristais perigosos.
Posso lêr (re-lêr) algo próprio?
yuriyudik@hotmail.com
(cubano;SC)