quinta-feira, 18 de junho de 2009

O jeito como eu sou - Clarice Lispector


(Tela de Ida Hanemann)
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É curioso como não sei
dizer quem sou.
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Quer dizer, sei-o bem,
mas não posso dizer.
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Sobretudo tenho medo
De dizer porque no momento
em que tento falar não só não exprimo
o que sinto como o que sinto se transforma
lentamente no que eu digo...
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Sou como você me vê.
Posso ser leve como uma brisa
ou forte como uma ventania,
depende de quando
e como você me vê passar.
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Não me dêem fórmulas certas,
porque eu não espero acertar sempre.
Não me mostrem o que esperam de mim,
Porque vou seguir meu coração.
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Não me façam ser quem não sou.
Não me convidem a ser igual,
porque sinceramente sou diferente.
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Não sei amar pela metade.
Não sei viver de mentira.
Não sei voar de pés no chão.
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Sou sempre eu mesma,
mas com certeza não serei
a mesma pra sempre.
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terça-feira, 2 de junho de 2009

Tempo - Licínia Quitério

(Tela de W. Maguetas)
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A Terra gira no sentido inverso
ao dos ponteiros dos relógios.
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Foi assim que aprendi na Primavera.
Escrevia-se Terra com maiúscula.
De vida, com minúscula,
só me falaram já se dizia Verão.
Os relógios, coitados, de tantas rotações
e translações, enlouqueceram.
E a Vida gira e continua a ser medida
nos Outonos repetentes da paixão.
E a Terra gira e no Inverno
já se vislumbra o eixo. E há-de chegar
a hora de os relógios se acertarem
pelo incerto bater do coração.
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